RELab Criativo: por uma moda plural
- Bárbara Bento
- 6 de out. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 8 de out. de 2021
A partir da educação, iniciativa conecta profissionais da moda brasileira para fomentar pluralidade no mercado

Imagine um centro de pesquisa educacional que desenvolve projetos com o objetivo de incentivar a pluralidade de pessoas em empresas da moda - no Brasil. Pois é, ele existe e se chama RELab Criativo.
Fundado pela designer de moda e consultora educacional, Luiza Tamashiro, 34, o RELab Criativo “conecta estudantes, educadores, profissionais, colaboradores e parceiros interessados em repensar o que é integração e inclusão, acessibilidade e sustentabilidade”, segundo consta na apresentação da empresa em sua página do Linkedin.
Resultante de cinco anos em desenvolvimento, o começo das atividades da empresa coincidiram com o início da pandemia de Covid-19 no Brasil e atualmente conta com equipe de quatro colaboradores: Gabrielle Rocco, Giovanna Ambrust, Guilherme Sanches e Maythe Markowski, além de uma crescente comunidade nacional de consultores da moda plural.
Propósito e Projetos
Para contribuir com a formação de uma sociedade plural, o RELab Criativo oferece uma gama de ações que vão desde treinamentos a cursos sobre moda plural e design universal, ministrados pela própria iniciativa, até parcerias com universidades e centros de educação para criação de históricos curriculares compostos por conteúdos que abordem a moda plural e o design universal.
Dentre as ações externas lançadas pela iniciativa, Luiza destaca o projeto RELiga realizado em parceria com o Brasil Eco Fashion Week. “O RELiga tem duas frentes: o treinamento para profissionalização de modelos e a imersão das marcas para desenvolvimento de uma peça que vista os vários corpos de modelos que já desfilam no evento”, conta.
Para a 5 edição do Brasil Eco Fashion Week, que aconteceu em setembro de 2021, Luiza também revela que estão em andamento um fashion film e um documentário sobre moda plural para serem lançados no evento, acompanhados de uma exposição sobre a equipe da RELab Criativo que contará com recursos de acessibilidade.
Autoconhecimento que provocou mudanças
Reconexão com as ancestralidades, faculdade de moda, veganismo e maternidade foram experiências que contribuíram para que Luiza tivesse a ideia de criar uma empresa voltada para o fomento da moda plural no mercado.
A consultora considera que o despertar para a ideia, mesmo que ainda não houvesse de fato uma ideia, aconteceu quando ela iniciou uma busca por reconexão com sua ancestralidade asiática, há mais ou menos cinco anos.
No meio desse processo, Luiza conta que descobriu uma informação sobre si que não esperava: ter ascendência indígena. Logo após a descoberta, a designer foi estudar moda numa tentativa de entender o porquê de esse sistema ser tão excludente. “Desde essa época venho colhendo informações sobre a forma como julgamos os corpos, fazemos as roupas e do quanto a história da moda é eurocêntrica”, observa.
Na faculdade, a consultora aguçou seu olhar para a perspectiva da pluralidade, valor que tentou introduzir em espaços do setor da moda, onde trabalhou, mas não obteve sucesso porque, esses espaços “não estavam preparados para entender” essa questão.
Foi trabalhando com confecção de figurino para teatro que a consultora ampliou suas habilidades de costura e modelagem, sobretudo voltada para diferentes tipos de corpos. Nessa mesma época, iniciou seu processo de transição alimentar e de estilo de vida para o veganismo. “Precisei me afastar por um tempo da área da moda para para me entender e refletir sobre o meu consumo”, conta.
Durante a transição, Luiza se envolveu no meio das feiras de alimentos e produtos orgânicos e veganos como coordenadora desses eventos, onde aprendeu muito sobre o estilo de vida vegano, até fabricação de produtos específicos. Dessa área ela migrou para a pesquisa de materiais sustentáveis e ampliou seus conhecimentos sobre sustentabilidade. “Aprendi muito sobre os tipos de materiais e que se inspirar e observar a natureza é o caminho para as soluções que precisamos”, reflete.
Maternidade como fonte de inspiração

A maternidade veio, há cerca de quatro anos, na vida de Luiza. Nessa época, ela percebeu que a moda sustentável ainda era excludente com as gestantes, assim como era raro encontrar produtos de autocuidado sustentáveis e naturais feitos especificamente para grávidas.
A internação da filha na UTI logo após o nascimento, que precisou ser realizado por meio de cesária, devido a complicação no fim da gestação, fez com que Luiza estabelecesse contato com outras mães, e conhecesse outras realidades maternas diferentes da sua. Diante dessa experiência, as reflexões acerca das exclusões da sociedade se intensificaram. Foi aí que resolveu fazer um curso de moda inclusiva que pode ser entendido como o ponto de partida para o lançamento do RELab Criativo.
“Quando a minha filha entrou pra creche, com 1 ano e meio, fui fazer o curso de moda inclusiva. Lá me conectei com pessoas que me ajudaram a construir essa minha caminhada. O curso também me trouxe muitos insights do quanto ainda precisava ser trabalhado para que tivéssemos uma moda que de fato olhasse para o indivíduo, e não para sua condição. Uma moda que tivesse a sustentabilidade como premissa. A partir daí comecei a trilhar essa caminhada para chegar no estudo sobre moda plural e o RELab Criativo”, relembra.
A designer considera que a maternidade foi sua maior fonte de inspiração e de pesquisa porque lhe proporcionou um nível maior de autoconhecimento e de consciência acerca de “O conceito de Moda Plural vem de todo esse aprendizado e o RELab Criativo também”, afirma.
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